quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Saga

Meus pés caminham sem parar
Num rumo que não tem fim
Caminham pra longe
E vão sozinhos

Minha cabeça flutua
Pra mais distante
Sem rumo
Fria

A espinha não fica ereta há tempos
Não há mais um horizonte
Para o qual olhar
Para o qual seguir

Quando percebo
Os pássaros do caminho
Saem das árvores
E vêm direto para as tripas
Que já estão quase secas

Meus pés começam a se cansar
A sentir o peso do corpo
O peso do tempo

Tudo dói
De pouco em pouco
Enfim,
Fica insuportável

Tudo me tira do sério
Nessa parte do caminho
Grito
Mas grito ao vento

Etapa em que me sinto só
De todas as formas
De todas as pessoas
Sinto a paranóia
Mas sei que ela passa longe
O que sinto na verdade
É intuição
E essa nunca me trai

As facas vão aparecendo no caminho
Cabe a mim decidir o que fazer com elas
Os braços mostram o caminho delas pelo corpo
O que me parece covardia

A exaustão do caminho
Me faz desistir aos poucos
De todas as companhias

As formas de ser
Me fazem ser evitada
E agora surgem vozes no caminho
Estou acompanhada mas não sinto ninguém aqui

Sinto frio de solidão
E o calor, que queima o rosto
Mas não vem do Sol
A ira queima minha pele

Me questiono o porquê não queimo até o fim,
Porquê não morro
Porquê meu corpo não desiste

Essa brincadeira de viver
Ficou sem graça
E cansativa

A partir daqui
Surge um mar
E não quero nadar
Me recuso a
- Depois de tanto resistir -
Mergulhar

Ainda assim não paro
Me obrigo a seguir


Ingrid Nogueira. 

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Pena pra voar
E pra sentir.

E eu não  sinto.

A mão foi aberta
E eu fui embora
Penas são pra voar
Bati as asas 
E fui embora
Pra casa
Que não existe
Que não fica
E que não pára.

Fui pra casa que me fiz
Pra casa que nunca se fecha
Fui voar para a liberdade
Para a casa de portas
E janelas
Abertas
Para a casa que não prende
Mas abriga
Para a casa de ficar 
E de partir
Para a casa de abraçar 
E de deixar ir.

Para a morada de mim.

Que parte e me segue,
Para todos os momentos 
Cheia de inícios e fins,
Cheia de chegadas,
Permanências e partidas.

Cheia de sentimentos,
De silêncios e de calmarias.

              Ingrid Nogueira. 
08_04_2021 
Gostaria que fosse mais fácil. 
A noite é dura
E parece que nunca passa
A insônia machuca os olhos
E ela corta força 
O esgotamento dói 
E chega a parecer não ter fim.

O final da insônia 
Chega no meio da noite
E vai se despedir
Quando o Sol quer acordar
A coluna dói 
As pálpebras ardem
Como areia fina 
Afunilando
Dentro da ampulheta 
E se esfregando no vidro
Friccionando grão a grão. 

Me dói ver a melhor noite
Deitada ao meu lado
Todos os dias
E me preocupar com a noite
Que está posta.

A escrita grita,
Um caderno novo,
Esta noite a mão tem leveza 
O sentimento ruge
Feroz 
Mas as palavras
As metáforas, 
Essas disparam nos pensamentos
E travam na ponta da caneta
A tinta fria,
Mas decidi não parar.


        Ingrid Nogueira.
11_04_2021

quarta-feira, 24 de março de 2021

Eu tô bem no limite

Já passa das 05 da manhã
Rôo unhas
E rôo o tempo

Como se eu fosse a ansiedade
E como se a ansiedade fosse eu

Lugares diferentes
Sensações iguais

Ao mesmo tempo
Sou o rato
Sou o queijo
Sou a faca
E sou a mão

Sou os dentes que roem
E entortam de tanto roer

Sou o cigarro e a fumaça
Sou o pulmão atingido
Sou o corpo prejudicado
Sou o próprio corpo que prejudica

Faço tudo
Não sou nada
Como o tempo
Também sou ele próprio
Que me consome

Sou o estômago que arde
O corpo que aos poucos parte
Quem sai e não se despede
Sou saudade que vai se alocando
Se deixando aos poucos
Sou aquilo que se faz presente
Ainda que invisível

Sou partida
Muito além das chegadas
E sou chegada que proporciona
Partidas lentas e frias

Olhos alagados
O choro travado
Garganta entalada

Triste
Fria
E sem rumo

Sem olhos
Na alma
A visão da alma
Foi cegada

E ver
Me dá saudades

Não durmo
Até o clarear do dia
Pra tentar enxergar
Mas não funciona
E tento sonhar
Até que não tenha mais sonhos
Mas acordo
Como se caísse de um precipício

A insônia
As olheiras
Luis Lins ao fundo
Na mente
"Eu tô bem"
"A música mais triste do ano"
E eu paro de contar
Eu já nem sei mais como contar
As horas
Os anos
As histórias...

E então também
Paro de ouvir
Não escuto nada
Cabeça cheia
E acelerada
Não há o que faça calar
Qualquer coisa dentro de mim
Que me faça reanimar

Então
Me deito
Esperando a vida passar

Então
Fumo
Esperando a vida passar

Então
Não como
E sigo a esperar

Perco as forças
Ando
Esperando não chegar

Então
Me perco
Na tentativa de me achar

Então
Me calo
E espero meu peito gritar

Termino o dia
Antes mesmo de começar
Ouvindo Laura Sette
"Limite"
Para saber onde
Exatamente parar

                        Ingrid Nogueira.

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Real Demais Pra Fazer Mal

Todos os dias eu tenho ido ao meu limite
Chego lá e retrocedo
Não consigo falar
Não consigo ou não sei me expressar
De toda a angústia que bate no meu peito

É quando me corto em pensamentos
Meu sangue imaginário percorre cada contorno junto à caneta,
E cada tecla do celular

Me imaginei nessa cena tantas vezes
Que já decorei o cheiro
E cada movimento com a ponta da caneta
Que me facilite a visão
Cada vez que eu limparia a tela do celular
Por não mais poder identificar as letras
Até ao ponto de não mais precisar por tê-las decorado a posição

É uma imagem que me ajuda a aliviar
Já me senti bizarra por isso
Por acaso alguém entenderia o que se passa dentro de mim?!
Carrego tantas dores
Que dói acreditar que era delírio
Ou vontade calada

A morte tem batido na porta de desejo
E o medo tem me mantido viva
Talvez

Talvez seja o amor
Ou o anseio de mudar

A caneta sangra meus pensamentos
Sinceros
Transparente
Ela dói
Mas deixa meus sentidos atentos

A caneta
A maçaneta
O papel
Portal
O mundo de fora
O outro lado
Lado de cá
O mundo de dentro

Atravesso
A caneta
Me atravessa
É a ponte pra cruzar

Cada letra
Um passo

Vivo
Me jogo
Perco o ar
Ressucito.

Ingrid Nogueira. 

quarta-feira, 4 de março de 2020

Flores de vidro

Seu saudosismo gritou essa tarde
Erros constantes

Cuidado com a força com a qual
Tem se exposto
Não é bom pra sua imagem

A saudade às vezes acontece
Mas vai com calma aí

Você me fez doer muito
E eu não selecionei o que apagar
Seus detalhes bons também fugiram
E não me dói
Nem bem nem mal

Suas palavras afiadas
Pra iludir com amor
Ou machucar pela sinceridade bruta demais
Já não me tocam

Seu grito é a quebra do vidro
E depois dele,
Só a brisa

Ainda bem que você gritou

Depois da sua partida
- Que já era esperada -
O vento tem cantado
Na minha janela
E é uma canção linda
De liberdade
Sem feridas disfarçadas

Seus estilhaços ainda ficaram no chão
E às vezes brilham no meu teto
É engraçado
Porque não tem cor
É pálido demais
Como o amor que você me ofertou

Você era vidro pálido
Fosco
Sem cor
Sem transparência
E vidro assim me incomoda
Eu gosto do que é transparente
Do que não tem o que esconder

Quando você quebrou
Era bailarina de vidro
E virou pó
Depois que dancei
Descalça por cima dos pedaços
- Não me doeu -

Porque você deixou de existir
Quando decidiu não estar ali

Seus traços
Antes delicados
Como seus passos
Sumiram tão rápido quanto era possível
E então foi ficando sem forma
Assim como as lembranças
Até sumir

Não me doeu
Porque já não enfeitava
A casa de dentro

Ainda bem que eu fui distração
E ainda melhor que eu decidi ir
Porque eu sempre estranhei o fato
De você não projetar as cores
Ao ser atravessada pela luz
Mas é que tem tanta etapa antes disso
E seu arco-íris ainda tem poucas cores

E não te culpo por não colorir
Te culpo pelo lápis branco
Te culpo por fingir
E mais ainda
Pelo que você encenou ser

Eu culpo pelas mentiras
E ainda mais pelas dores consequentes
Pelas palavras inconsequentes
E pelos sorrisos profanos
De quem engana e não se dói

Essa tarde seus gritos foram estridentes demais
Mas eu juntei seus restos e os calei
Coloquei numa caixa de papelão
Pra que não machuque mais ninguém

Se engana se pensa que guardei de lembrança
De você a mínima lembrança é dolorosa
Eu enterrei bem longe
Pra ninguém encontrar e correr o mesmo risco que eu corri
Eu também quebrei,
Estourei e escorria
Alimentei meu campo
E reflori

Te escondi
Por não merecer o brilho do dia
E menos ainda
A brisa que chega à noite

Não quer dizer que sou má
Só que você ainda não merece

Mas vai que um dia,
De tanto deteriorar
Você entenda o proceso
Que é de alimentar a sua terra
Que é a dor de morrer
Pra só depois
Merecer renascer
E florir.

Ingrid Nogueira.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

A travessia

Eu tenho doído
E posso assegurar
Que a dor do amor não dói tanto
Que essa dor parece imensurável
Já a dor amor 
(ou a do fim dele, aquela de se transformar em outra coisa)
Na verdade não dói
Arde

O amor deixa marcas
Mas essa dor que tenho sentido
Dor de uma outra coisa
Ela me cala
E não deixa vestígios
Não me deixa nem respirar em paz

É uma dor funda
Inflamada
Ardida
E marcada

É uma angústia que parece que não tem fim

Eu tenho doído
Mas não tenho chorado
Porque essa é uma dor perdida
Daquelas que são capazes de desnortear
Se é que você me entende
Daquelas que doem taanto
Que te fazem perder a noção do tempo

Uma dor de fim
Mas que fim é esse que nunca chega?!
Se eu nunca fui forte demais
Pra vê-lo chegar

Uma falta de ar
Acompanhada da fiel escudeira
Uma dor profunda no peito
Que parece que vai te matar

E o pensamento é esse mesmo:
"- Se dessa vez não acabar por si,
Eu mesma dou um fim nela"

Dá o que?!
Falta coragem
Mas também falta tesão em ficar
Falta curiosidade do lado de lá
Mas também coragem do lado de cá

O que sobra é o medo
Que a cada dia me sufoca um pouco mais
Que é o que me faz bater essa dor
É o que me causa a ânsia
Que me leva ao ímpeto do quase
O que me traz o gosto
E o que me faz não partir

Não sei se vou voltar.

Ingrid Nogueira. 

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Lembrança da janela

Lá no bordel era lei,
A gente não conseguia nem se vestir de tudo,
Era tanta energia,
Tanto calor e sedução e beleza... 

Eu lembro dessa encarnação... 

Você também estava lá.
Eu lembro dos teus olhos.
Eram tantos corpos,
Mas não podíamos ter o que desejávamos,
Porque não era bem visto.

As orgias,
Eu lembro dos seus olhares,
Era quando conseguíamos trocar nossas carícias pessoais.

Eu sempre te esperava chegar dos seus chás,
Te esperava na janela.
Namoradeira não! 
Não éramos mulheres com quem se namorasse... 

Eu te esperava mulher da vida,
Puta, dada aos prazeres...
P'ros homens era propaganda dos serviços, 
Pra você era mulher!

Me lembro ainda do medo,
Da vontade,
Dos quase... 

Lembro quando você me ensinou a fingir,
E de como você não conseguia fingir pra mim. 
Eu lembro também do basta,
De quando fomos apanhadas,
De quando você me trancou,
De quando rasgava as minhas roupas de urgência, 
Eu lembro de quando me proibiu de me vender,
Eu lembro bem daquela noite,
Daquela briga... 

Lembro de quando você me olhou 
Da mesma janela onde eu costumava te esperar ansiosa... 
Eu era quem olhava de fora agora,
Sinto ainda o ardor no peito,
Eu sinto a dor.

A do tiro, e ainda mais a da posse, a da traição... 
O gosto do sangue,
A perda da égua de entre meio as pernas,
A sua perda do peito,
Você fez, com aquele tiro, uma porta de saída, 
Você foi embora de mim junto com o sangue que me escapava.

Eu sinto ainda hoje as lágrimas que te escorreram dos olhos
E que caíram na minha testa, 
Bem no lugar onde você me beijou... 

Eu te perdoei, 
Lembro bem disso... 
Eu te amei,
E ainda nessa vida,
Eu te amo.

Não corro o mesmo risco.

Ingrid Nogueira.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

As palavras sumiram
Escrever dói, sabia?

Dói por te colocar na frente do espelho
Por te fazer colocar pra fora
E é aí que a realidade não pode ser fingida

Dói por ser o famoso tapa de luva
Por te fazer ver, além de saber
Te faz sentir muito mais que calar

E calar é a tentativa de tapar a ferida
De estancar o sangramento que continua
A rolar e afogar seu interior

Escrever é mais que só falar
É se obrigar a nadar
A dar sempre a próxima braçada
Mesmo que seus músculos todos dêem sinais de que não suportam mais

Porque é nessa hora
Que a palavra te mostra a força que têm
É aí que ela te obriga a se salvar

Escreve pra viver
E mais que isso
Escreve quando não mais quiser viver
Quando não suportar estar vivo
Nessa hora, redige quase um livro

A palavra te invoca
Pra escrever
Pra reviver
Pra sentir
Pra doer
E lembrar de respirar
Lembrar da dor
Lembrar do choro
Do choro de alegria também
Lembrar que dói,
Mas que pode fazer bem

Escrita é alegria
Mas também é choro
É voz, mas também é silêncio

É tão oposto
Que chega fazer gosto
Quando se pode olhar
Enquanto alguém escreve
Expresso o sentimento no rosto

Escrever transparece

E às vezes a gente se recusa a olhar
A gente tem medo da gente
Medo da gente mesmo se decepcionar

Ingrid Nogueira

terça-feira, 10 de setembro de 2019

Seu saudosismo gritou essa tarde
Erros constantes

Cuidado com a força com a qual
Tem se exposto
Não é bom pra sua imagem

A saudade às vezes acontece
Mas vai com calma aí

Você me fez doer muito
E eu não selecionei o que apagar
Seus detalhes bons também fugiram
E não me dói
Nem bem nem mal

Suas palavras afiadas
Pra iludir com amor
Ou machucar pela sinceridade bruta demais
Já não me tocam

Seu grito é a quebra do vidro
E depois dele,
Só a brisa

Ainda bem que você gritou
Depois da sua partida
Que já era esperada
O vento tem cantado
Na minha janela
E é uma canção linda
De liberdade
Sem feridas disfarçadas

Seus estilhaços ainda ficaram no chão
E às vezes brilham no meu teto
É engraçado
Porque não tem cor
É pálido demais
Como o amor que você me ofertou

Você era vidro pálido
Fosco
Sem cor
Sem transparência
E vidro assim me incomoda
Eu gosto do que é transparente
Do que não tem o que esconder

Quando você quebrou
Era bailarina de vidro
E virou pó
Não me doeu

Porque você deixou de existir
Quando decidiu não estar ali

Seus traços
Antes delicados
Como seus passos
Sumiram tão rápido quanto era possível
E então foi ficando sem forma
Assim como as lembranças
Até sumir

Não me doeu
Porque já não enfeitava
A casa de dentro

Ainda bem que eu fui distração
E ainda melhor que eu decidi ir
Porque eu sempre estranhei o fato
De você não projetar as cores
Ao ser atravessada pela luz
Mas é que tem tanta etapa antes disso
E seu arco-íris ainda tem poucas cores

E não te culpo por não colorir
Te culpo pelo lápis branco
Te culpo por fingir
E mais ainda
Pelo que você encenou ser

Eu culpo pelas mentiras
E ainda mais pelas dores consequentes
Pelas palavras inconsequentes
E pelos sorrisos profanos
Deu quem engana e não se dói

Essa tarde seus gritos foram estridentes demais
Mas eu juntei seus cacos e os calei
Coloquei numa caixa de papelão
Pra que não machuque mais ninguém

Se engana se pensa que guardei de lembrança
De você a mínima lembrança é dolorosa
Eu enterrei bem longe
Pra ninguém encontrar e correr o mesmo risco que eu corri
Eu também quebrei,
Estorei e escorria
Alimentei meu campo
E reflori

Te escondi
Por não merecer o brilho do dia
E menos ainda
A brisa que chega à noite